O casamento mais recente que tive a honra de celebrar me proporcionou uma reflexão que merece ser compartilhada. Você vê na foto Rafaela e o meu xará João Paulo. Eles se uniram, no final de setembro, em uma pousada localizada no alto das montanhas de São Bento do Sapucaí. Um lugar sensacional, com uma paisagem de tirar o fôlego e uma sensação de quase tocar o céu.
Apesar dessa imponência da natureza, a cerimônia foi diferente de todas as outras que celebrei até este momento. O casal me fez um pedido que destoou do que costumo ouvir: eles não queriam que eu “ficasse contando a história deles”. Consideraram muito egocentrismo.
No primeiro momento, estranhei, confesso. Mas ao ouvir as mensagens enviadas pela querida Rafa, entendi bastante sobre a forma como eles enxergam a vida, os valores que apreciam no ser humano e como analisam uma cerimônia de casamento. O pedido foi um olhar para dentro. Deixar detalhes da história deles de lado e abordar o que de fato vale a pena: amor, união, afeto e tudo o que nos torna humanos.
Ao elaborar o texto, destaquei que Rafa e João nos lembram que o amor não precisa de pirotecnia. As redes sociais e a superexposição que ela nos determina, por vezes, nos levam a acreditar que tudo precisa ser exponencial, midiático, exclusivo e digno de vários likes. Claro que já fiz cerimônias que atenderam a todos esses critérios, mas Rafa e João nos puxam para a realidade.
Realidade de um casal que valoriza o tempo ofertado ao outro como a maior prova de amor. E não estou falando aqui de qualquer afirmação clichê de que o tempo deve ser aproveitado para a maior produtividade possível. Não! Mas sim do tempo dedicado a descobrir o sabor de sorvete predileto de um, preparando um brigadeiro para presentear o outro ou redigindo uma dedicatória na contracapa do livro favorito para dá-lo de presente à pessoa amada em um encontro numa pracinha perto de casa.
Eles me disseram acreditar que a cerimônia de casamento não era apenas sobre eles, mas também uma oportunidade para compartilhar carinho com os familiares e amigos convidados. O que vivemos foi também uma devoção aos vínculos estabelecidos com pessoas que se reconhecem na forma de ver a vida.
Eu me sinto muito grato por terem me escolhido como celebrante e por confiarem que eu faria uma cerimônia longe da atmosfera comercial que assola os casamentos.
Ninguém saiu igual da cerimônia. Rafa e João me levaram a quase “tocar o céu” em São Bento do Sapucaí, mas também me proporcionaram uma incursão profunda em minhas reflexões e sentimentos. Que continuem leves, felizes e inspiradores!
João Paulo Baxega, é jornalista e celebrante de casamentos