Piracicaba, 1971. Naquele ano, uma moça chamada Ester visitava uma amiga e, quis o destino, que ela conhecesse um rapaz que morava na casa da frente. Da amizade com José Roberto surge um sentimento a mais. Começaram a paquerar e casaram-se em 1974.
Piracicaba, 2024. Cinquenta anos se passaram e, em uma manhã de domingo, tive a honra de contar a linda história desse encontro e tudo o que aconteceu nas décadas que se seguiram. Fui, com muita alegria, o celebrante das bodas de ouro desse querido casal.
Por natureza, sou uma pessoa reflexiva e meu encontro com Ester e José Roberto potencializou alguns pensamentos. Primeiro, a constatação do quanto são raros os casais que me procuram em busca de um celebrante para comemorar os 50 anos de casados. Eles estariam por aí? Os casais estão, de fato, alcançando esse marco tão significativo? De acordo com o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro em 2023 era de 76,4 anos. Um cálculo básico nos permite concluir que para chegar às bodas de ouro os brasileiros deveriam ter se casado por volta dos 26 anos de idade. Ou seja, estatisticamente nós brasileiros temos chances de chegar até lá. E a tendência é de que vivamos cada vez mais.
Entendida a longevidade dos brasileiros, surge a minha segunda pergunta. Haveria uma estatística sobre a longevidade dos casamentos no Brasil? Não encontrei nenhuma pesquisa sobre isso e acredito ser algo de difícil mensuração. Mas o fato é que o Brasil registrou em 2022 o maior número de divórcios na série histórica. Foram 420.039 divórcios, o que representa um aumento de 8,6% em relação ao ano anterior. As informações também são do IBGE.
Lamento esses dados, porém eles reforçam algo que já sabemos. O “boom” dos divórcios é um fenômeno historicamente recente. Antigamente, por questões culturais, sociais e religiosas os casais evitavam o divórcio. Independentemente de como resolviam os conflitos da vida a dois, eles seguiam casados, ou seja, com chances de chegarem às bodas de ouro.
Se concluímos que “sim, esses casais estão por aí”, o que justificaria então os raros casos dos que comemoram esse marco da vida a dois? Acredito que há algumas condicionantes. É possível que muitos optem por replicar o que fizeram quando se uniram, ou seja, quem optem por uma celebração na igreja. Há ainda os que podem estar em idade avançada e que precisem que os filhos tomem a iniciativa de organizar a comemoração. Estariam os filhos atentos e dispostos a isso? E, uma última hipótese, os casais que podem optar por simplesmente não comemorar e essa é uma decisão a ser respeitada.
O que me resta é ficar na torcida para que meus caminhos se cruzem com mais casais como Ester e José Roberto. Trago comigo a pergunta que ela me fez assim que a abracei ao final da cerimônia: “Amanhã podemos comemorar de novo?”. Dona Ester estava radiante, muito emocionada e querendo celebrar novamente. Desejo que ela tenha vários novos “amanhãs” com o marido e que, juntos, sirvam de inspiração para muitos outros casais.
João Paulo Baxega, é jornalista e celebrante de casamentos