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Fernanda e Rafael – O pai que emocionou a todos

No casamento anterior, contei que o noivo chegou de moto no local da cerimônia e deixou os convidados atônitos. Neste, foi a vez da noiva surpreender. Ela chegou de caminhão e por uma razão muito especial. Mas vamos do começo.

Era uma tarde de julho quando toca o telefone e uma cerimonialista se apresenta em busca de um celebrante. Era a dinâmica Thaís, da Vivare Cerimonial. Ela me contou que há três dias estava em busca de um celebrante e me orientou a criar um site para minha divulgação e também para ajudar noivos e cerimonialistas a me acharem com maior facilidade. Foi uma longa e gostosa conversa na qual ela me falou do casamento da Fernanda e do Rafael, que seria realizado em Sumaré.

Começava ali uma relação diferente das que eu tinha estabelecido até então. Até o dia do casamento, mantive apenas contato com a cerimonialista. Geralmente elas me procuram, mas depois os noivos assumem os trâmites. Mas a dinâmica Thaís intermediou até o fim com extrema maestria.

Meses depois de fecharmos o contrato, foi por meio dela que eu soube que o casamento poderia não acontecer. Infelizmente, o pai da noiva estava internado e o estado merecia atenção. Coloquei-me à disposição para colaborar com o que fosse decidido e ofereci minha torcida à família.

As semanas se passaram e Thaís me procurou para confirmar a cerimônia. Os noivos conversaram com a família e decidiram seguir, já que o pai continuava internado e sem previsão de mudança do quadro. Segui com a elaboração do roteiro planejando todos os detalhes da cerimônia ao ar livre. Na semana anterior ao casamento, veio uma notícia animadora. Os médicos decidiram dar alta ao pai da noiva para ir à cerimônia. Mas ao final do casamento, ele deveria voltar a ser internado.

Quando cheguei ao Espaço Belle Vie, a presença de uma UTI Móvel chamava a atenção. Aquela era uma cena inédita para mim, mas que demonstrava o tamanho cuidado da família com o pai. Os convidados foram chegando aos poucos e eram recepcionados pelo noivo. Logo, todos os padrinhos também chegaram e eis que minutos antes de a cerimônia começar, um carro entra nos jardins do Espaço Belle Vie trazendo o pai da noiva. Com muito cuidado, ele foi colocado em uma cadeira de rodas e levado até o corredor central por onde a noiva entraria. Foi trabalhoso circular pelo gramado com a cadeira de rodas.

Eis que avisto um caminhão entrando pelo portão. Foi uma surpresa para todos, inclusive para mim. Era a noiva chegando. Fernanda quis fazer uma homenagem ao pai, que antes de adoecer trabalhava como mecânico de caminhões. O veículo voltaria a ser lembrado na entrada de alianças. O pajem puxou uma cordinha com um caminhãozinho de madeira rumo ao altar. Na carreta do brinquedo estavam as alianças.

Segui com o casamento de olho nas reações do pai. Ele estava muito feliz, o tempo todo. Os noivos, muito jovens, fizeram uma comovente leitura de votos. Mas o momento de maior emoção foi, surpreendentemente, o que se seguiu ao término da cerimônia. Quando encerrei e anunciei que os noivos receberiam os cumprimentos dos padrinhos, coloquei-me ao lado do altar, como costumeiramente faço para não aparecer ao fundo das fotos dos noivos com os padrinhos. Observava cada emocionante cumprimento quando senti uma presença ao meu lado. Era a enfermeira da UTI Móvel. Rapidamente percebi que havia uma preocupação com o momento do cumprimento do pai da noiva. A emoção causa impactos diferentes em cada um de nós, né?

Fernanda e Rafael continuavam recebendo os cumprimentos. Olhei para a enfermeira de novo. Ela sorriu. Aquilo me aliviou e sorri de volta. O pai, na cadeira de rodas, também continuava sorrindo. Até que chegou o momento do abraço e do beijo da filha, agora casada. Um momento de muita emoção. Fernanda precisou se abaixar para receber o carinho do pai. Não houve quem não se comovesse. Foi aí que o pai disse uma palavra que para sempre ficará gravada em minha memória: “Conseguimos!”.

Certamente estar ali não foi uma missão fácil para ele. Thaís havia me dito que se ele ficasse muito tempo em pé, sentiria dores ao respirar. Por este motivo, a cadeira de rodas. Mas acredito que, por maiores que fossem as dores que a doença lhe causavam naquele momento, o amor pela filha o fez superar tudo. A enfermeira não foi necessária, tampouco a UTI Móvel. Tudo correu em plena harmonia como Fernanda e Rafael queriam e mereciam.

Da minha parte, uma imensa alegria em ter presenciado um momento no qual o amor falou tão alto. Sim, eles conseguiram.

Atualização: o pai da noiva faleceu 15 dias depois.

4 comentários em “Fernanda e Rafael – O pai que emocionou a todos”

    1. uma história muita linda…
      conheço a família dos noivos…
      mas infelizmente seu pai veio a falecer com 15 dias depois do casamento

  1. Belo texto e verdadeiro.
    O seu relato me fez voltar ao diA 13/10/2018.
    A emoção imperou essa cerimônia.
    Sou grata aos meus afilhados pela força que transmitiram a todos, tão jovens e fortes.

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