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Homenagens póstumas em casamentos

A pandemia da Covid-19 fortaleceu uma tendência que aos poucos dava sinais de que vinha para ficar: as homenagens póstumas em cerimônias de casamento. Esse assunto te deu má impressão? Eu entendo! Também senti estranheza na primeira vez que um casal me pediu para incluir uma homenagem a pessoas falecidas durante o casamento. Hoje, considero incrível.

Volte comigo a 2018. A data da cerimônia de Jéssica e Thiago se aproximava quando, em uma reunião, eles me contaram sobre a recente perda da mãe dela e do pai dele. Ainda impactados com os falecimentos, eles me pediram para escrever algo sobre os pais para homenageá-los durante a cerimônia. Confesso que aquilo me desconcertou. Era a primeira vez que um casal me pedia algo assim.

Levei uns dias para me convencer de que a homenagem funcionaria, afinal, como eu iria falar de morte em um casamento? A cerimônia tem uma energia de êxtase, a vibração é lá em cima, mas falar de alguém que havia partido seria levar os convidados a acessarem lembranças de sintonia mais baixa. Conforme os dias se passaram, percebi que a resistência continuava em mim. “Oras, João! Se os noivos querem, é preciso fazer! Se é preciso fazer, faça da melhor forma”. A partir daí, defini que não falaria mais com o casal sobre o assunto. As informações sobre os pais me foram passadas por pessoas próximas. Escrevi a homenagem da forma mais leve possível. O texto falava sobre características positivas de personalidade e de caráter dos pais, além de manifestar gratidão.

Claro que ficou emotivo. Eu mesmo chorei várias vezes ao lê-lo nos dias que antecederam à cerimônia para que isso não acontecesse na hora H. Funcionou! Houve grande emoção no momento, mas incluímos, reconhecemos e prestamos reverências a quem o casal sentia necessidade de homenagear.

Desde então, quando há esse pedido por parte dos casais, eu acolho com carinho e adoro escrever sobre quem se foi. Percebo que os noivos que valorizam esse momento possuem valores morais fortes e aprecio demais condutas dessa natureza. A cerimônia ganha uma potência afetiva. Olhamos para quem não está ali fisicamente com muito carinho. Chega de não olhar para ausência! Principalmente para as mais recentes e dolorosas causadas pela pandemia e que quase levaram ao cancelamento de muitas cerimônias. Olhamos, homenageamos e aplaudimos, literalmente.

Dia desses me assustei com uma cerimonialista que dizia que ela tira essa ideia da cabeça do casal. Fiquei paralisado! Primeiro pela falta de sensibilidade, segundo pela intromissão em um assunto tão precioso na existência do outro. Achei de um desrespeito tremendo! Sempre acredito que é o casal que determina as etapas da cerimônia. Nunca me meto! Apenas cumpro! Sei que me cabe executar da forma mais bonita e elegante possível.

Preciso agradecer a Jéssica e Thiago por terem me mostrado isso. Homenageamos Francisca e Wilson naquele dia com muito amor. O vídeo da homenagem é o mais visto do meu YouTube. Nesta data, já são mais de 18 mil visualizações, ou seja, mais de 18 mil reverências, mais de 18 mil aplausos.

João Paulo Baxega, é jornalista e celebrante de casamentos

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