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Os equivocados padrinhos e madrinhas

A missão da madrinha e do padrinho durante uma cerimônia de casamento sempre foi clara: testemunhar a união e assumir compromissos, mesmo que de forma não muito clara, de oferecer suporte àquele casal a partir daquele momento. Porém, de forma prática, na dinâmica das cerimônias, essas pessoas passaram apenas a entrar, sentar-se em lugar de destaque e sair.

Sempre achei que o papel dos padrinhos tornou-se muito impessoal e, por vezes, sem sentido durante a cerimônia. Ao me tornar celebrante, essa minha impressão ganhou força. Detalhista que sou e amante da comunicação, fico de olho em como os padrinhos e madrinhas agem durante a cerimônia e percebo, muitas vezes, indiferença. Isso fica claro por meio da comunicação não verbal desses casais, o famoso “corpo fala”.

O primeiro sinal geralmente se dá nas entradas no início da cerimônia. Como já estou no altar com o noivo, fico prestando atenção em como agirão os padrinhos após cruzarem o corredor central e chegarem perto dele. Lembre-se: o noivo é o único protagonista “em cena” nesse momento apoteótico. Todos estão ali para prestigia-lo. Sabe o que acontece quando a maior parte dos casais de padrinhos chega na frente do noivo? Ignoram o protagonista. Preocupados em sair bem na foto, em ter boa desenvoltura no vídeo e em encerrar com maestria a linda caminhada pelo corredor central, os padrinhos, via de regra, sequer olham para o noivo. Tornou-se algo tão impessoal, engessado e, claro, sem sentido.

São raríssimas as ocasiões em que consigo identificar casais que trocam olhares afetuosos com o noivo. Quando isso acontece, fico repleto de felicidade. Além de ser uma reverência ao protagonista daquele dia, também é um afago em um momento de pleno nervosismo para ele. É como se por meio do olhar, esses casais dissessem “Estou aqui por você!”, “Que honra testemunhar esse seu momento!” ou um simples “Calma!”.

Para reverter esse quadro, gosto muito de falar com as madrinhas e padrinhos durante a cerimônia. Nos preparativos, pergunto aos noivos os motivos pelos quais aquelas pessoas foram escolhidas. Com base nesses critérios, escrevo uma reflexão direcionada aos padrinhos e, inclusive, os lembro que a partir daquele momento eles se tornam guardiões dos noivos. Sabendo que gosto de falar com os padrinhos, alguns noivos até me pedem parar citar casal por casal e deixar claros os critérios de suas escolhas.

A impessoalidade dessa missão está tão enraizada que os padrinhos levam um susto quando começo a falar com eles. Não esperam. Depois da surpresa, vejo surgirem expressões alegres e, por vezes, bate a emoção. Pronto! Está criado o vínculo que tanto defendo.

Outro ponto fundamental, como já dito em artigo anterior nesse mesmo espaço, é manter uma postura agradável durante a cerimônia. Madrinhas e padrinhos estão em posição de destaque na cerimônia, geralmente, em local onde todos os convidados possam vê-los. Com isso, a postura ideal é a de uma pessoa interessada e agradável. Essas são atitudes contagiantes. O mesmo ocorre com pessoas carrancudas. Primeiro, ocorre que as atenções se voltam para aquela pessoa claramente descontente naquele papel. Depois, a negatividade contagia os demais.

Feitas as minhas reflexões, sugiro que faça também as suas. Você está mesmo preparado(a) para assumir tão honroso papel? Entenda que a missão vai muito além do “entrar e sair” durante a cerimônia, usar roupas finas e dar presentes suntuosos. Caso você não se sinta bem nesse papel, recuse o convite. Não é vergonha alguma. Não se force a fazer algo que não lhe deixa à vontade. Inclusive, pode ser que o carinho não seja recíproco e isso acontece em todas as relações. Claro que você não precisa chatear os noivos dizendo isso a eles, mas, se for um fato, agradeça e recuse! Agora, se aceitar o convite, preste atenção no pacote que incumbências que chega com ele: cumpra os protocolos, preste reverências ao casal e seja uma pessoa agradável.

João Paulo Baxega, é jornalista e celebrante de casamentos

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