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Os pais e as interferências nos casamentos dos filhos

Confesso que sempre acho estranho quando o primeiro contato comigo é feito pela mãe da noiva ou do noivo. A primeira imagem que formo em minha tela mental é de um casal ainda muito dependente dos pais. São raríssimos esses casos, mas acontecem. Talvez o estranhamento se dê porque o casamento, por origem, é um ritual de transição. Historicamente, ele representa o alcance da maturidade do filho e o início da construção do próprio lar e de sua família. Ou seja, a independência é pressuposto.

Claro, há exceções. Como quando, por exemplo, o casal mora fora do Brasil e precisa que alguém resolva algumas contratações ou quando os pais resolvem me contratar como um presente para os filhos. Do contrário, fico pensativo sobre o que virá pela frente com tamanho participação dos pais.

E esse, de fato, é um dilema sempre externado pelos noivos. As histórias de interferências são diversas e envolvem desde o aumento da lista de convidados devido às presenças exigidas pelos pais até direcionamentos na escolha do repertório da banda da festa ou exigências quanto ao vestido da noiva.

Certa vez, fiquei assustado com a decisão de uma noiva de Rio Claro. Uma das únicas exigências que ela tinha me feito era sobre a entrada da imagem de Nossa Senhora Aparecida durante a cerimônia. Muito devota, ela via esse momento como o auge do casamento, que seria realizado em um salão de festas. Qual não foi a minha surpresa quando, às vésperas do casamento, ela me pediu para retirar essa etapa? Curioso, perguntei o motivo. Ela então me explicou que a mãe, muito enfática, disse achava uma heresia a entrada de uma imagem em um local não consagrado. Interpretações à parte, para não magoar a mãe, ela abriu mão de um sonho. Também tive uma noiva que me relatou dificuldades para escolher o vestido. Todos que ela achava maravilhosos, a mãe dizia serem horríveis.

Consigo entender, juro. Também sou filho e magoar nossa mãe é uma hipótese fora de cogitação. O que não consigo assimilar é como, por vezes, essa não é uma preocupação dos pais em relação aos filhos. A linha é tênue entre opinar no casamento do filho e magoar. Quantos desejos, sonhos e vontades são deixados de lado porque os pais torceram o nariz para as decisões dos filhos.

Por vezes, percebo que os pais têm o sonho de que os filhos repliquem o que eles viveram em seus próprios casamentos anos atrás. Porém, muita coisa mudou. Desde as referências de moda que impactaram nos vestidos de noiva, até novos sabores para pratos e doces da festa, nos estilos musicais e a cerimônia então nem se fala. Diante disso tudo, quando os casais revelam se sentirem pressionados pelos pais fico pensativo “Afinal, de quem é o casamento?”.

Então, se você for se casar, prepare-se para lidar com o dilema: suas escolhas x opiniões externas. Entenda quais as pessoas que você decidirá ouvir e se, ou até onde, se permitirá ceder. Acredito que ouvir seja fundamental, até porque de opiniões externas podem surgir pontos de vista realmente construtivos e que irão lhe auxiliar em seu casamento. Porém, se sentir qualquer resquício de frustração quando essa opinião externa chegar pode ser um alerta de que a interferência está passando do ponto.

Aos pais, uma sugestão. Permitam-se acolher as escolhas dos filhos. Pode ser que ocupar um papel neutro lhes proporcione uma experiência fantástica durante o casamento. É delicioso ser surpreendido, como qualquer outro convidado, pois ao participar de tudo com antecedência, saber de cada detalhe, fará com que no dia cumpra-se um mero protocolo. Passa a ser um casamento mais frio do que emocionante.

João Paulo Baxega, é jornalista e celebrante de casamentos

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