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Poliane e Eric – Casamento na Serra da Mantiqueira

A primeira coisa que pensei quando recebi uma mensagem da Poliane foi: “Certamente essa foi a primeira e última conversa que tivemos. Ela é de Minas Gerais! Mais fácil encontrar um celebrante de lá!”. Como sempre, tirei as dúvidas que ela tinha sobre a atuação de um celebrante e combinamos que eu enviaria o orçamento. E pronto! Horas mais tarde, quando escrevia o e-mail com minha proposta de trabalho veio a dúvida: “Qual a cidade do casamento mesmo?”. Percebam que eu achava mesmo que não celebraria esta união. Nem tinha guardado o nome da cidade!

No mesmo dia, uma noiva com o mesmo nome, porém de Piracicaba, também me chamou no Whatsapp. Mesmo ritual: explicar como trabalha um celebrante, tirar dúvidas e enviar orçamento. Um ou dois dias depois, recebo uma mensagem do Eric, marido da Poliane, com uma contraproposta. Li enquanto dirigia em uma manhã chuvosa (Sim, eu uso o celular ao volante! Luto contra isso, mas é mais forte do que eu). Não só li, como aceitei a contraproposta. Pensei: “Piracicaba é aqui do lado! Tudo certo com o valor que me ofereceram”. Já entenderam que confundi as noivas, né? Acabava de fechar o casamento em Minas Gerais.

Quando percebi, já era tarde. Passei alguns dias pensando em como agir com os noivos. “Deveria dizer a eles que confundi? Ou não? Agora já dei minha palavra! Eles entenderão? São 526 km de estrada! Vou parecer pouco profissional?”. Decidi manter o combinado. Ah! Os noivos só saberão dessa história ao ler esse post. Abracei meu engano em troca da sinergia que senti pelos noivos e pela vontade de celebrar pela primeira vez no meio da Serra da Mantiqueira.

Querem saber o nome da cidade? Gonçalves. Nunca mais me esquecerei de lá. O dia? 1º de setembro de 2018. O casamento seria no meio da tarde nos jardins da Pousada Vida Verde. Saí de Limeira às 10h rumo a uma viagem por eles, mas no caminho descobri que era por mim. Segui pelas rodovias paulistas, cujas características conheço de cor, apenas preocupado em chegar no horário. Decidi não almoçar até me sentir seguro quanto a minha chegada antecipada à cerimônia. Já na Rodovia Fernão Dias, em território mineiro, meus pensamentos de preocupação foram substituídos pela contemplação da vista das cidades pelas quais passava. Muitos quilômetros já Minas adentro, o GPS me joga para uma estrada ainda mão dupla um pouco mais simples, que me leva a uma vicinal pista simples e a partir daí a várias estradas municipais que cruzavam cidades, vilas e montanhas incríveis.

Parei algumas vezes para fotografar o que via e enviava para os amigos. Sim, continuei no celular contando a saga do faminto celebrante desbravador das Minas Gerais. Lembro-me de fotografar a ponte de um vilarejo pela qual passava um carro de cada vez, achei engraçado. Registrei o sol refletido nos paralelepípedos de outra cidadezinha, achei bucólico. Um carro de boi gigantesco, achei triste (vejam, entendo a realidade local e o costume deste tipo de veículo. Mas sou daqueles que se arrepiam com a necessidade de tração animal ainda).

Em uma estradinha bem sinuosa, já habituado a fazer curvas em baixa velocidade há uns bons minutos, cheguei a ter a sensação de que estava sentado na frente de uma tela aguardando as próximas imagens a serem exibidas no meu para-brisas. Foram horas de uma viagem interior muito importante, contemplação e gratidão. Quando o Waze alertou para a proximidade do meu destino, já estava em uma empoeirada estrada de terra.

A Pousada Vida Verde é incrível. Percebi ainda no carro, ao observar os jardins, que era acolhedora demais! Até chegar no estacionamento, vi o local da cerimônia de relance e algumas pessoas finalizando a decoração. Tinha chegado 30 minutos mais cedo. Gosto de chegar uma hora antes, mas “ufa” mesmo assim. Estacionei e caminhei em busca da cerimonialista para comunicar a minha chegada. Pelo caminho, muitos homens de terno batendo papo de forma descontraída. Certamente aguardando as companheiras finalizarem os preparativos. A noiva havia me dito que boa parte dos convidados e padrinhos estariam hospedados ali.

Quando achei a cerimonialista, ela me levou ao local da cerimônia e fiquei paralisado. Às margens de um pequeno lago circular, onde havia uma queda d’água, estava o altar. Singelo, mas muito bonito. Sou apreciador da máxima “menos é mais”. As cadeiras dos convidados foram colocadas em formato de meia lua. Ao fundo, atrás do lago, as gigantescas árvores da Serra da Mantiqueira escalavam o terreno morro acima. Consegui ver lá no alto vários chalés que me pareceram super aconchegantes. Que recompensa depois de tantas horas de estrada! Admirei no pouco tempo que pude e cuidei de procurar algo para comer antes de me trocar para iniciar a celebração. Meu almoço? Um saquinho de amendoins torrados e um Snickers, meu chocolate predileto.

Estava curioso para conhecer os noivos. Devido a distância, não nos vimos antes da cerimônia. Mas durante a fase de pesquisa, mergulhei na história deles. Isso é engraçado! Sempre chego me sentindo íntimo do casal. Foi aí que conheci o Eric. Ele ostentava um daqueles coques que só caras com muito estilo podem ter. Estou fora dessa lista, claro. Nem cabelo suficiente para isso eu tenho. Além de ser um noivo estiloso, Eric foi super receptivo. Perguntou sobre minha viagem e num rápido bate papo percebi que a imagem que tinha feito dele em minha tela mental estava certa. Pensa em um cara receptivo e agradável.

Apresentações feitas, segui para o local da cerimônia. Foi neste momento que percebi que havia um detalhe muito importante faltando: o meu microfone. Alertei a cerimonialista e ela confirmou que esse item havia sido esquecido. Não dava mais tempo de ir buscar na cidade! Preocupados, procuramos pelos músicos que já estava posicionados, mas o cabo do único microfone que eles tinham não chegava até o altar. Convidados já sentados, o noivo já a postos e nenhuma solução para o microfone. Tensão! Foi aí que tivemos um insight: “A pousada certamente tem!”. Mas a esperança foi por água abaixo em poucos minutos. A gerência avisou que não tinha. Foi aí que percebi que teria que fazer sem microfone, no gogó, como dizem. Não seria a primeira vez e me senti confortável diante da projeção de voz que consigo alcançar. Seria possível fazer sem tornar meu tom de voz desconfortável para quem me ouvia. Mas minha maior preocupação era com os noivos. Será que se fariam ouvir?

Chegou a hora! Aproximamos um pouco mais o altar dos convidados e o cortejo começou. Recebemos Eric, os padrinhos e madrinhas e eis que surge Poliane. Havia uma antiga porta de madeira colocada no início do corredor central, obviamente sem paredes ou apoios nas laterais. Ela se abriu e a Poli adentrou radiante aquele espaço repleto de energia positiva. A partir daí, nem me lembrei que estava sem microfone. Só fui perceber pelos vídeos que os convidados mais ao fundo acompanharam com risos ou emoção o que eu dizia. Ou seja, deu tudo certo. Assim como o Eric, a Poliane me encantou. Uma noiva com a plenitude que toda mulher merece neste dia. A ponto de eu ter escolhido as fotos deles para estampar a capa do meu Facebook e para estar em destaque aqui no site. Durante a cerimônia, é impossível ter qualquer tipo de conversa com os noivos, mas me senti diante de uma amiga de longa data. Havia conversado muito com ela nas semanas anteriores.

A cerimônia foi sem efeito civil, mas com o ritual da árvore. Os noivos plantaram uma árvore da felicidade. Ele plantou a muda macho e ela, a fêmea. Este ritual simboliza o nascimento de uma união. Os pais ofereceram a terra, que simboliza a solidez da união, e a água, que representa o cuidado que o casamento precisa a cada dia. O ritual singelo, foi coroado por músicas incríveis escolhidas pelos noivos e um contato sem igual com a natureza.

Após o casamento, tive um contato muito rápido com os noivos. Fizemos uma foto e pude manifestar minha gratidão pela oportunidade que me deram de celebrar esta união. Nos falamos na semana seguinte e trocamos carinhos. Nunca sei o quanto meus noivos me levam na lembrança, mas eu os revisito com muita frequência. No caso da Poli e do Eric, trago comigo a gratidão pelo pacote que, sem imaginar, eles me deram de presente. Cheguei a Limeira altas horas da noite depois de voltar por um outro caminho bem mais urbano. Dessa vez, o GPS me mandou de volta pelo Vale do Paraíba e a falta de charme da Dutra. Mas estava tão abastecido por Minas Gerais, pelo que vivi naquela pousada e por tudo o que absorvi de positivo de Poliane e Eric, que voltei muito feliz com esta missão de celebrante.

Tenho uma coisa meio estranha. Às vezes, revisito lugares na minha cabeça. Como se tivesse um pouco de mim ainda por lá. Sei que é doido, mas sinto isso com alguns lugares. Com Gonçalves é assim. Às vezes me pego distraído lembrando daquela pousada e me sinto incrível nesses momentos. Mérito de Poli e Eric, pessoas pelas quais continuo emanando o melhor de mim.

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