O papel delegado aos pais dos noivos durante as cerimônias de casamento sempre esteve restrito aos momentos iniciais do ritual. A partir da entrega dos filhos em frente ao altar, o protocolo exigia que os pais se tornassem meros espectadores da cerimônia, assim como os demais convidados.
Recentemente, o protagonismo que lhes é de direito também passou a ser reconhecido no protocolo dos casamentos. É cada vez mais comum os casais optarem por homenagear pai e mãe durante a cerimônia e eu adoro.
Via de regra, combino com os noivos que esse momento seja mantido em segredo. Quando chega a hora de reverenciar os pais, é possível enxergar a grande emoção em suas feições. Gosto de chama-los para que se posicionem no local da honra, ou seja, ao lado de seus filhos. Com base em informações que os noivos me passam, como traços de personalidade, caráter e o legado oferecido, escrevo as homenagens. O resultado? Você pode conferir na foto que ilustra a coluna de hoje. Fernanda Trentino e Jonas Andrade fizeram questão de reverenciar os pais durante o casamento. Que emoção! Foi lindo!
Mas aqui cabe um contraponto. Esse tipo de homenagem, infelizmente, não se enquadra em todas as famílias. É preciso reconhecer se os laços afetivos, de fato, justificam a inclusão deste momento na cerimônia. Às vezes, por acontecimentos alheios às vontades do casal, a vida não construiu relações tão afetivas com seus pais. Se esse for o seu contexto, pode ser que algumas questões precisem ser avaliadas (ou resolvidas) antes de optar por essa homenagem. Pode não soar verdadeiro para as pessoas que os conhecem mais de perto.
Por vezes, sou surpreendido com cenários familiares dos mais diferentes. Já tive casais que optaram por prestar essa reverência a pais divorciados há anos, para madrastas, padrastos e até a mães e pais falecidos. Nesses casos, a homenagem implica em atenção redobrada desde o momento de optar por incluí-la, passando pela redação cautelosa do texto e a realização. Exige-se do celebrante uma sensibilidade a mais na orientação ao casal. Em alguns casos, o fator surpresa tem que ser deixado de lado e avisar os envolvidos de que esse momento acontecerá se faz necessário, como é o caso dos pais divorciados, por exemplo. É preciso estar um passo a frente para evitar constrangimentos desnecessários.
Particularmente, eu fico muito feliz quando o casal me pede para incluir essa homenagem. Ao olhamos para aqueles que vieram primeiro e manifestarmos gratidão reconhecemos nosso lugar no mundo e as contribuições que recebemos para a formação dos seres que somos. A cerimônia ganha em potência energética e, pessoalmente, acredito que é um momento que gera ecos para as vidas de todos os envolvidos.
Para a minha alegria, as experiências como essa etapa sempre foram fantásticas. Em algumas cerimônias se tornam o clímax, o momento de maior emoção. Por isso, quando o casal me pede alguma orientação sobre essa homenagem, nem titubeio e cravo: “Façam!”.
João Paulo Baxega, é jornalista e celebrante de casamentos