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“Será que eu quero mesmo me casar?”

Um dos pressupostos de quem decide se casar é se manter organizado nos meses que antecedem ao casamento. Porém, há uma vertente que tem me chamado a atenção: a organização emocional.

Recentemente, uma noiva me chamou no WhatsApp, depois de várias tentativas de contato que fiz, para me dizer que tinha tirado um tempo para não pensar no casamento. Segundo ela, os preparativos estavam lhe causando crises de ansiedade. Fiquei muito sensibilizado porque, obviamente, não gostaria que alguém estivesse em sofrimento nessa fase que deveria ser prazerosa. Ao mesmo tempo, gostei da franqueza dela, pois me deu clareza sobre o que estava acontecendo para eu não a incomodar nos dias que se seguiram.

Essa confiança da noiva em me relatar algo tão pessoal não é um sentimento exclusivo dela. Quando o trabalho começa junto a um casal, os laços que se formam são muito fortes. Cria-se uma proximidade. Por vezes, recebo informações muito pessoais e que não são compartilhadas até com familiares ou mesmo dentro do casal.

Exemplo disso, foram duas noivas que me disseram: “João, às vezes me pego pensando se quero mesmo me casar”. Confesso que na primeira vez que ouvi fiquei perplexo e levei um tempo para entender. Neste caso, ocorrido há três anos, a noiva me relatava que se via cumprindo protocolos pré-casamento que a estavam deixando exausta, que tudo havia ficado maior do que ela havia planejado, mais caro, que faltava clareza para tomar decisões e que, mesmo assessorada, se sentia sobrecarregada. Perceba que tudo o que ela me relatou não era referente ao parceiro. Não haviam dúvidas sobre os sentimentos dela por ele, porém, para que pudessem se unir a sensação era a de correr uma maratona.

Decidi levar essa pauta para o meu podcast e convidei a psicóloga clínica Amanda Abreu para falar sobre o assunto. Ela me alertou que há noivos que buscam a terapia antes da decisão de se casar. Eu achei isso fantástico para que ambos possam estar sintonizados e com os dilemas expostos e compreendidos.

Isso porque são muitas as tomadas de decisões durante o processo pré-casamento e decidir gera estresse. Os anos todos de sonhos e expectativas sobre o casamento são rapidamente substituídos pelas tomadas de decisões. Decidir por algo é dizer não para várias outras possibilidades. E como é difícil dizer “não”, né?  Além disso, a sociedade entende que casar oferece status para a pessoa e, por vezes, percebo que as decisões são tomadas com base nesse critério, no que dará maior projeção para o casamento perante os olhos dos outros. É muita cobrança!

Mas, voltando à minha conversa com a psicóloga, ela destacou que é difícil termos 100% de certeza em absolutamente tudo na vida porque vamos mudando de acordo com as fases passamos. As relações, os valores e os planos mudam. Por vezes, a data escolhida pode não significar que o casal esteja no melhor momento e isso é natural.

Depois dessa conversa, quando a segunda noiva, recentemente, me disse o mesmo, eu estava pronto para acolhe-la e acalma-la. Foi um desabafo repleto de constrangimento, como se ela sentisse culpa por me revelar os sentimentos, mas encontrou do lado de cá um celebrante empático.

Diante disso tudo, se você está no momento do casamento e tem visitado pensamentos ou sentimentos dessa natureza, acolha. Busque entender se suas expectativas são realistas, trabalhar a aceitação de possíveis mudanças de planos e se preparar para fazer apenas o que está no controle. Seja gentil consigo!  

João Paulo Baxega, é jornalista e celebrante de casamentos

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