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“Velha é a vó!” –  Será mesmo?

O ditado que dá título a esse artigo é comumente utilizado para menosprezar a idade de alguém. Mas venho trazer uma situação em que, cada vez mais, a idade tem sido reconhecida e homenageada: os casamentos. A participação de avôs e avós é cada vez maior nas cerimônias. Os noivos têm optado por soluções cada vez mais sublimes para essa reverência a seus antepassados.

Uma delas funciona como uma solução para a entrada das alianças. Sabe aquela clássica cena da criança que foi escolhida para entrar com as alianças travar quando chega o momento dela? Já vi de tudo! Há as que correm, as que choram, as que precisam da ajuda de um adulto para entrar, as que são convencidas por guloseimas e não há ensaio que resolva. Somente quando a música toca e a multidão se vira e encara a criança é que sabemos como ela irá reagir. Recentemente, para evitar essa saia justa, muitos casais têm optado por uma substituição com um resultado muito afetivo: os avós, que sempre tiveram lugar de pouco destaque nas cerimônias. As crianças são mantidas no começo enquanto floristas ou para entrada de placas e os avós assumem as alianças.

Gosto de ver a reação dos convidados quando notam que no fim do corredor há uma senhorinha ou, por vezes, um idoso senhor. O clima de surpresa, nostalgia e afeto toma conta do lugar. É um encantamento sem fim. Uma das cenas que mais me comoveu foi a da foto que ilustra esse artigo. O noivo Tiago foi até o final do corredor e entrou com a avó, que trazia as alianças. Dona Janete chegou até a região do altar imensamente emocionada e comoveu a todos. Um momento inesquecível!

Voltei da cerimônia com a cena na cabeça e pensando em várias outras que vivenciei ou vi na internet. Dia desses viralizou um vídeo de um menino entrando com as alianças e dizendo aos berros “a minha mãe me obrigou”. O vídeo alcançou milhões de visualizações. Eu mesmo recebi de amigos que acharam hilário. Procurei olhar um pouco mais a fundo. O menino estava coberto de razão! Aquela exposição não foi uma opção pessoal, nem a roupa desconfortável. As dezenas de celulares apontados para ele assustam imensamente! É um conjunto de pequenas torturas e frustrações. A ele, e a todas as outras crianças que já vi em situação parecida, a minha compaixão.

Claro que há casos de avós extremamente idosos e com a mobilidade reduzida. Quando não há forma de participação efetiva em alguma etapa da cerimônia, gosto de citá-los. Envolvê-los, prestigiá-los é uma forma de agradecer por todo o caminho percorrido para que o momento daquele casamento fosse possível. Para mim, velha não é a mais a avó. Velhos são alguns hábitos ou tradições que um olhar mais apurado revelam que não fazem mais sentido.

João Paulo Baxega, é jornalista e celebrante de casamentos

2 comentários em ““Velha é a vó!” –  Será mesmo?”

  1. Muito emocionante e a tomada de decisão muito terna, ou seja priorizando e dando espaço para que uma vovó se sinta importante é amada.Parabens!!!!

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